SEBASTIÃO DA MATTA
08/05/1922 A 05/02/1973
No domingo dia 4, minha tia e Lazinha, meu tio Lutero e meus
primos Marco, Chico e a Bi foram em
casa. Não havia nada combinado, mas minha tia disse que levantou com vontade de
fazer bacalhoada e então foi lá para casa pois sabia como meu avô gostava.
Foi um dia normal como qualquer domingo, era aniversario da
Silvana nossa vizinha então fomos todos brincar após o almoço, meu tio reuniu
as crianças para andar pelo mato.
Eu avô não foi conosco ele ficou em casa dizendo que iria
limpar o terreno baldio do lado de casa para os bichos não entrarem no quintal
e mordesse as crianças.
Quando chegamos em casa, ele já havia terminado de limpar o
terreno e estava sentado segurando uma cobra na mão, alguém perguntou se ele
iria matar a cobra e ele respondeu que ela também merecia viver. Então fomos
com ele até perto do rio para soltar a cobra bem longe de casa.
Na segunda feira dia 5, ele foi no bar buscar pão e leite e trouxe
duas panelinhas para minha avó e disse que era para ela fazer chá, à noite. Ele
se arrumou para trabalhar e antes disse para minha avó não deixar ninguém judiar
de mim e da minha mãe e se foi trabalhar. Esta foi a última vez que o vimos com
vida.
À noite, os vizinhos chamaram dizendo que havia um homem
caído na escada de casa. Todos descemos e vimos um homem negro de barba no
chão, quando minha mãe o virou e aos poucos a barba branca do homem foi sumindo
e a cor negra da pele foi sumindo e surgindo as feições do meu avô.
Ele morreu na rua e pai José incorporou para trazê-lo de
volta para casa.
Realmente naquela noite minha avó usou as panelinhas para
fazer chá para todos nós. Vê-lo deitado na cama com os pés na cabeceira da
cama, usando sua camisa nova cinza e azul e calça azul, até hoje é uma das
lembranças mais fortes que tenho da minha infância.
Em algum momento alguém me levou para ficar com minha mãe na
varanda, enquanto o carro do IML veio busca-lo. Foi neste momento que eu vi,
pela primeira vez minha mãe brigando com Deus, pois se ele não tivesse deixado
Jesus morrer meu avô não teria morrido.
Foram momentos difíceis, depois dele ser levado, fui com meu
pai avisar os parentes do acontecido e até hoje tenho na memória o choro das
pessoas no escuro da noite.
Este som me assombrou por algum tempo principalmente quando
tinha que sair de casas e passar pelo local onde o encontramos caído.
Durante seu velório, garoou o tempo todo, deixando o dia mais
triste ainda e no cortejo até o cemitério o chão e os carros ficaram recobertos
das florezinhas roxas das quaresmeiras que existiam pelo caminho.
Não tenho muitas fotos dele, naquela época era complicado,
mas pra mim e para Ket, ele era um gigante que podia fazer qualquer coisa e
sempre estava ao nosso lado.
Hoje 45 anos depois a sensação, o vazio deixado e a saudades
permanecem os mesmos. Dizem que o tempo cura todos os males, eu não concordo, a
gente aprende a sobreviver colocando outras coisas como prioridade na nossa
vida para continuar vivendo, mas se você observar bem lá no fundo a dor, a
falta e o choro permanecem iguais te lembrando de quão efêmera é a vida e a
nossa felicidade
Sinto sua falta.....
Te amo!
COMO O ALEX PARECE COM MEU AVÔ
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